Total de visualizações de página

28 de dez. de 2010

Mulheres Jovens são seduzidas pelo tráfico

Tráfico seduz mulheres jovens
Na Penitenciária Estêvão Pinto, em BH, 90% das detentas cumprem penas por tráfico, como Gleiciene Piedade, de 23 anos, condenada a 14 anos. (BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Na Penitenciária Estêvão Pinto, em BH, 90% das detentas cumprem penas por tráfico, como Gleiciene Piedade, de 23 anos, condenada a 14 anos.
A eleição da mineira Dilma Rousseff (PT) à Presidência, primeira mulher a governar o país, foi mais uma prova contundente de que elas abandonaram a posição de coadjuvantes para disputar com os homens o papel de protagonistas. Se para o bem a participação feminina deu um salto na política, na universidade e no mercado de trabalho, para o mal veio um sinal de alerta:, nunca houve tantas mulheres atrás das grades. Somente em Minas Gerais há hoje 2,6 mil presas. E a entrada na vida à margem da lei tem ocorrido cada vez mais cedo. Ainda meninas, elas empunham armas, comandam gangues e bocas de fumo. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o número de crimes cometidos por adolescentes do sexo feminino entre 12 e 17 anos cresceu 12,3%, passando de 866 para 1.102, no período de 2007 a 2009. Na faixa etária de 18 a 24 anos, 11,3% a mais de garotas tiveram a ficha criminal suja, pulando de 2.117 para 2.404, no mesmo intervalo.

O tráfico de drogas é, de longe, a principal porta de entrada no mundo do crime, atingindo 90% das detentas da Penitenciária Estêvão Pinto, no Bairro Horto, na Região Leste de BH. Mas, diferentemente do que se imaginava, nem sempre as mulheres assumem funções no narcotráfico por pressão dos companheiros. Não raro, elas mesmas optam pela criminalidade, seja pelo dinheiro, prestígio ou aventura. As conclusões fazem parte da pesquisa Subalternidades juvenis: uma breve discussão sobre a participação de mulheres em gangues e galeras de Belo Horizonte, finalizada neste ano pela especialista em segurança pública Christiane Nicolau Pinheiro, do Centro de Estudos da Criminalidade e da Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O trabalho vai além de casos que ganharam o noticiário, como o de Dayanne Rodrigues, de 23 anos, e Fernanda Gomes de Castro, respectivamente ex-esposa e namorada do goleiro Bruno Fernandes, além da médica Gabriela Costa, de 26, acusada de ser ‘gerente’ do bando da degola, comandado por Frederico Flores. Ao explorar a fundo um campo pouco estudado, a pesquisa, de acordo com Christiane, desmitifica a tese de que a mulher é a coadjuvante na criminalidade, atrás da figura masculina. “Embora não tenha distinguido os motivos que levam homens e mulheres a cometer crimes, posso dizer que não são muito diferentes. Ela se envolve bastante por uma questão de status, pela adrenalina e prazer de estar num grupo, atitude típica da juventude.”

No caso do tráfico, o marido ou namorado – principalmente depois de preso, quando precisa de um substituto no comando da boca – é uma, mas não a única razão a explicar a entrada feminina no comércio ilícito de drogas. “Existe algo a mais por trás disso, como a forma fácil de ganhar dinheiro. O argumento usado por muitas delas é o de ajudar no sustento da casa. O tráfico está muito relacionado ao poder de consumo.” afirma, ressaltando que as entrevistadas assumem “ter mulher demais envolvida no crime”.

Consumo

O desejo de comprar levou a jovem Simone dos Santos, de 23 anos, para atrás das grades há três anos e cinco meses. “Rodei no tráfico. Via minhas colegas com um tanto de coisa nova. Pedia para a minha mãe e ela custava a me dar. Comecei a guardar droga. Depois, passei a vender o crack. Ganhava uns R$ 800 por dia, comprava tênis, roupa, comia em restaurantes, tomava um chope, curtia a vida”, conta. Condenada a quase dez anos de prisão, ela obteve no fim de 2009 o benefício do regime semiaberto.

A falta de estrutura familiar é outra característica comum entre a maioria delas. “As histórias dessas meninas são atravessadas pelo processo de criminalização na família e na comunidade. Com laços familiares frágeis, muitas vezes, elas se lançam em gangues como uma forma de proteção.” Condenada a 14 anos de prisão, Gleiciene Piedade, de 23, cumpre regime semiaberto na Estêvão Pinto e atribui aos ‘laços de sangue’ seu envolvimento com o tráfico. “Meus tios sempre foram errados, assaltantes, traficantes. Meu irmão mexia com droga. Morava numa boca de fumo. É hereditário”, interpreta. Depois de mais de três anos atrás das grades, ela afirma querer trilhar o caminho do bem.

A maior parte das ocorrências envolvendo mulheres está relacionada a agressões, com lesão corporal ocupando o segundo lugar no ranking feminino de atos infracionais. O furto é o terceiro tipo de crime mais cometido. O tráfico de drogas aparece na quarta posição, e o consumo ilícito de entorpecentes, no quinto lugar. Embora não esteja no topo do ranking, o narcotráfico geralmente está associado aos registros e aparece como pano de fundo da violência. “O fenômeno do uso de drogas impactou na raiz os atos criminosos. Nesse contexto, a mulher passa a ocupar papel de destaque justamente pela característica de que o depósito da mercadoria é, normalmente, feito em casa”, diagnostica o subsecretário de Administração Prisional (Suapi) da Seds, Genilson Ribeiro Zeferino
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário